Afinal, não é fácil dizer para alguém tão novo que ele nunca mais vai encontrar aquela pessoa que partiu, não é mesmo? Até porque cada criança reage de maneira única à perda, o que pode ser ainda mais complicado conforme a idade.
Por isso, se você está em busca de orientação sobre como conversar com crianças sobre morte, chegou ao lugar certo.
No artigo de hoje, você vai entender quais são as fases do luto e como trabalhar o luto com as crianças a partir de estratégias adequadas à compreensão dos pequeninos. Confira.
Quais são as fases do luto?
Os estudos sobre luto infantil usam como referência as fases do luto definida pela psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross em seu livro “Sobre a morte e morrer”, de 1998. Segundo a autora, o processo de luto acontece em uma sequência de 5 etapas: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação.
Em cada uma, é comum a presença de padrões de pensamentos e sentimentos para lidar com a perda. Veja as características de cada fase:
- negação: inicialmente, a pessoa não acredita que a perda aconteceu. A negação pode ajudar a amortecer o impacto inicial do choque;
- raiva: funciona como um mecanismo de defesa para não ter que lidar com o sentimento de perda, e pode ser direcionada a qualquer objeto ou situação, inclusive à pessoa que faleceu;
- negociação: essa fase pode acontecer antes mesmo da perda do ente querido — quando se sabe que existe a possibilidade do falecimento — ou depois da morte. Aqui, a pessoa se pergunta se tem algo que ela pode fazer para evitar ou reverter a perda;
- depressão: quando toda a negação, raiva e tentativas de barganha acabam, chega o momento em que “a ficha cai” e a pessoa se dá conta de que a morte é real e definitiva. Aparecem, então, os sentimentos de desespero e desamparo;
- aceitação: nesse último estágio, a pessoa enlutada começa a encontrar uma forma de seguir em frente com a sua vida, mesmo com o sentimento de perda.
No caso das crianças, todas as fases também acontecem. Porém, como os pequenos ainda estão construindo suas ideias e afetos, o luto é compreendido de formas bem particulares, de acordo com a idade e o grau de maturidade de cada criança.
Portanto, para saber como trabalhar o luto infantil, você precisa conhecer quais as reações comuns e esperadas em cada faixa etária.
Como trabalhar o luto infantil? Principais manifestações nas crianças
A Sociedade de Pediatria de São Paulo, em sua publicação sobre a percepção da morte pelas crianças no período de pandemia, mostra como as crianças costumam reagir diante da perda de uma pessoa querida. Veja só!
Bebês e crianças até 2 anos
Nessa fase, os bebês e crianças pequenas entendem o mundo por meio de sensações e ações. Elas não conseguem racionalizar a morte, mas são muito sensíveis à ausência de pessoas presentes no dia a dia.
Logo, se um cuidador muito próximo, como a mãe, o pai ou ou a avó, falece, o pequeno pode ficar mais agitado, irritado e apresentar dificuldades para dormir ou comer.
Crianças de 2 a 6 anos
Nessa idade, as crianças começam a ter noções sobre a morte, mas o entendimento da perda é repleto de fantasias e explicações “mágicas”.
Assim, é comum que elas falem de seu ente querido como se ele estivesse dormindo para sempre, tenha partido em uma viagem muito longa ou esteja morando no céu.
Os pequenos nessa faixa etária também podem achar que a morte aconteceu devido ao seu comportamento e se sentir culpados, o que pode torná-los tristes, irritadiços e solitários.
Crianças de 7 a 11 anos
Nesse estágio do desenvolvimento cognitivo, a lógica já está presente. Logo, as crianças entendem que a morte é um fato permanente e universal. Assim como em adolescentes e adultos, suas reações variam — ora lidam bem com a perda, ora estão tristes e desamparadas.
Crianças e adolescentes acima de 11 anos
Adolescentes entendem perfeitamente o conceito de morte, mas a fase da adolescência pode tornar o processo de luto mais complicado. É comum que se sintam revoltados, culpados e se isolem dos amigos e familiares.
Mesmo que você saiba o que esperar, é bom lembrar que cada pessoa é única. Logo, as maneiras de reagir diante da perda de um ente querido são muito particulares e variam de bastante.
Ainda assim, ao conversar com a criança sobre morte, você deve levar em consideração a forma como ela percebe esse evento.
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Como conversar com crianças sobre morte?
Converse de forma honesta, clara e adaptada à idade da criança. Esteja aberto para esclarecer possíveis dúvidas e a ouça com atenção e empatia, para permitir que o pequeno expresse seus sentimentos. Compartilhar emoções ajuda a criança a entender e lidar com a perda de maneira apropriada e saudável.
Esse é um resumo das recomendações indicadas em uma revisão bibliográfica sobre a comunicação da morte para crianças, publicada na Revista de Psicologia Hospitalar, em 2016.
O estudo também ressalta a importância de ajudar a criança a manter viva a memória de quem partiu, para se lembrar dele com carinho e amor. Afinal, quando uma pessoa querida morre, ela não é esquecida por quem a ama, não é mesmo?
Por isso, evitar o assunto da morte não é a solução para trabalhar o luto infantil.
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Como trabalhar o luto com as crianças? 6 dicas para falar da perda
Para trabalhar o luto infantil, você precisa:
- ser honesto e falar com naturalidade sobre o assunto;
- mostrar suas emoções;
- reforçar lembranças positivas;
- deixar a criança escolher se quer participar das cerimônias de despedida;
- usar recursos lúdicos que abordam o tema da morte;
- buscar apoio psicológico.
É claro que cada família tem suas crenças — que afetam diretamente a maneira de lidar com a perda de uma pessoa querida. Porém, para trabalhar o luto com as crianças, é fundamental falar a verdade de forma que elas compreendam e acolhê-las com empatia. E lembre-se: se precisar, busque ajuda profissional.
Confira, em detalhes, as 6 dicas de ações e atividades para trabalhar o luto e ajudar seu pequeno a vivenciar esse momento desafiador.
1. Seja honesto e fale com naturalidade
Falar sobre a morte com crianças pode ser delicado, mas é importante ser sincero. Em vez de evitar o assunto ou inventar histórias, explique o que aconteceu de forma simples.
Mantenha a conversa leve e natural, sem fazer do tema um tabu. Esteja disponível para responder às perguntas da criança, sempre com paciência e clareza. Se a morte ocorreu em condições violentas, explique sem entrar em detalhes assustadores.
É melhor dizer a verdade claramente, como "a pessoa faleceu e não estará mais com a gente". Depois de explicar a situação, você pode usar metáforas como "virou estrelinha" para ajudar a criança a entender as crenças da família, se for o caso.
2. Mostre suas emoções
Não tenha medo de mostrar sua tristeza. Dizer que sente saudades e que também está triste contribui para validar os sentimentos dela. Ajude a criança a nomear e entender suas emoções — essa estratégia é importante para mostrar que é normal se sentir abatida e confusa nesse momento.
3. Reforce lembranças positivas
Incentive a criança a lembrar da pessoa falecida de forma positiva. Atividades como escrever cartas, desenhar, contar histórias ou olhar fotos juntos podem ajudar a manter vivas as boas lembranças e a lidar com a dor da perda.
4. Dê a escolha à criança
Permita que o pequeno decida se quer participar das cerimônias de despedida, como velórios, mas explique, antes, o que ele vai ver nos memoriais e funerais. Tente descrever o que acontece em um velório para que ele não se sinta despreparada.
5. Use recursos lúdicos
Filmes e livros podem ser ferramentas úteis para ajudar a criança a entender a morte e o luto.
Alguns exemplos são as animações “O Rei Leão”, “Viva! A vida é uma festa” e o livro “Roupa de brincar”, de Eliandro Rocha.
6. Busque apoio psicológico
Por fim, se o seu pequeno tiver muita dificuldade para lidar com a perda de uma pessoa querida, não hesite em procurar atendimento psicológico.
Seja com terapia familiar ou com terapia para enfrentar o luto, sua criança pode se sentir muito mais fortalecida para encarar a vida com resiliência e com as saudades da pessoa que se foi.
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